Escudo da Seleção Brasileira
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Futebol feminino pela primeira vez nas Olimpíadas

Relato de Sissi, jogadora da Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996 e Sydney 2000. Faltam 30 dias para o começo dos Jogos Olímpicos do Rio 2016

Assessoria CBFAssessoria CBF

06/07/2016 - 10h28
Atualizado há 8 anos

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Eu comecei a me interessar pelo futebol quando eu tinha mais ou menos 7 anos de idade. Eu nasci no interior da Bahia, na cidade de Esplanada, e um dia eu vi meu pai e meu irmão jogando bola no quintal de casa. No início eles não queriam que eu participasse porque falavam que futebol era coisa pra menino, então a única maneira que eu podia jogar era sendo bobinha. Eu sempre tinha que ficar no meio da roda e eu ficava revoltada com isso. Além disso, tinha o fato de a minha família não ter condições de comprar uma bola. O que eu fiz foi começar a arrancar a cabeça de todas as minhas bonecas e, escondida, comecei a dar os meus primeiros chutes. Minha mãe ficava horrorizada em ver minhas bonecas sem cabeça e o meu pai, para acabar com essa loucura, resolveu me dar minha primeira bola de presente. Aí foi a minha paixão!

Com o passar do tempo meu pai percebeu que eu tinha nascido com um dom e começou a me incentivar. Mas, mesmo assim, não tinham outras meninas na minha cidade para eu jogar, então eu acabava só jogando com os meninos. A briga de todo dia era pra disputar em qual time eu ia entrar. Mas logo depois as coisas começaram a mudar na minha vida. Meu pai recebeu uma proposta para trabalhar na cidade de Campo Formoso, e a gente teve que se mudar. Foi lá que eu conheci a primeira mulher que eu vi jogando bola. A gente, então, começou a formar um time com meninas das cidades próximas do interior da Bahia só para brincar. Até o dia que a gente fez um jogo contra o Grêmio de Senhor do Bonfim, que era um time mais organizado, e a Míriam, que formou a equipe e também era jogadora, me chamou para entrar no time. Depois de um tempo, o Grêmio foi enfrentar o Flamengo de Feira de Santana, e o dono do clube chamou nós duas para irmos morar lá e jogar pelo time. Foi ai, com 14 anos, que eu deixei minha família e comecei a jogar futebol pelo primeiro time organizado. Daí para frente minha carreira começou a mudar completamente. Aos 16 anos eu estava jogando no Radar, que foi o time base da primeira Seleção Brasileira Feminina de Futebol, e em 1989 nós fomos chamadas para ir à China jogar o nosso primeiro Mundial com a camisa da Seleção.

Fazer parte daquela primeira Seleção foi um fato inédito na minha carreira, mas estar na primeira Olimpíada com a presença do futebol feminino no programa dos Jogos de 1996, em Atlanta, é algo que eu não consigo expressar em palavras. A nossa preparação aquele ano não foi muito adequada, foi mais um preparo a curto prazo. Nós fomos para os Estados Unidos e jogamos contra algumas universidades só. Até hoje eu lembro da chegada na Vila Olímpica, o primeiro jogo, indo para o vestiário. Meu coração estava a mil. E é diferente, por exemplo, participar dos Jogos Olímpicos e de uma Copa do Mundo. Nas Olimpíadas, você pode conhecer atletas de outras modalidades, e o espírito do evento é uma sensação muito maior, algo inacreditável. Eu vivi coisas maravilhosas na minha carreira mas, realmente, participar daquela primeira Olimpíada é uma lembrança que eu vou sempre guardar com muito carinho. Na verdade, eu só comecei a ter noção da grandiosidade do evento que eu estava participando na minha segunda Olimpíada, em 2000, em Sydney, na Austrália. Na primeira acho que eu estava vivendo um sonho.

Nos jogos de 96, a gente começou empatando com a Noruega por 2 a 2, depois ganhamos do Japão por 2 a 0, e o nosso adversário seguinte era a Alemanha. Essa partida mudou totalmente a nossa visão sobre nós mesmas na competição. A gente chegou no evento totalmente desacreditadas, e ninguém imaginava que a Seleção fosse conseguir um bom resultado. Nós conseguimos garantir um empate por 1 a 1 com as alemães, com gol meu. No outro confronto que jogamos contra elas, pelo Mundial, nós perdemos por 6 a 1, então empatar foi realmente um fato muito marcante. Conseguimos mostrar que éramos capazes. Mesmo a gente ficando em quarto lugar, para nós foi excepcional, nós chegamos muito perto de conseguir uma medalha e, para a gente, é como se tivéssemos conseguido.

Depois dessa primeira Olimpíada com o futebol feminino como modalidade, que já foi um passo enorme na história do esporte, veio o Mundial de 1999 nos Estados Unidos. Esse foi o evento que mudou o Futebol Feminino não só no Brasil, mas no mundo todo. Eu tive a honra de ser uma das artilheiras da competição com sete gols, e o Brasil ficar com a terceira colocação. São momentos incríveis que eu vivi com a Seleção Brasileira e que até hoje fazem parte de mim.
 
O segredo é acreditar sempre. É isso que eu digo para as meninas da Seleção Brasileira que vão disputar a Rio 2016. Receber e vivenciar um evento como esse no seu próprio país é um momento único na vida de cada atleta. Eu torço muito por essa geração. 
 
 
Por Sissi, jogadora da Seleção Brasileira de Futebol nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996 – a primeira edição com futebol feminino - e Sydney 2000.

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